sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O capuz.

Há um tempo atrás este era o meu esconderijo. Era aquele primeiro pensamento que eu tinha quando me sentia inseguro ou quando alguma coisa me infligia. O som das risadas se tornava mais baixo lá dentro. A minha visão era melhor controlada lá dentro. Minha aparência estava guardada lá dentro. Não me lembro de muita coisa concreta, apenas me lembro de como me sentia todos os dias. Cheguei a dizer coisas que não condizem comigo quando estava sob o domínio do medo. Naquela época encontrei a melhor companhia de todas. Não era necessariamente uma pessoa. Não necessariamente me fazia bem mas fazia com que eu me sentisse invisível.
Choviam dias seguidos. As manhãs eram pesadas e as noites tomadas por preocupação, começava na minha cabeça. Sempre começa. Então, se arrastava até meus olhos, meus braços e meu coração. Onde era distribuída pelo meu sangue para todo o meu corpo. Isso era assustador e eu era um pouco sombrio. Minha cabeça doía muito e meus olhos estavam constantemente inchados.
Eu sentia vontade de conversar, falar abertamente mas não confiava em ninguém. Por muitas vezes eu fui mal-entendido tentando me fazer entender, até que um certo dia eu abri mão de tudo isso. Abri mão de tudo que podia ser deixado de fora, de tudo o que me fazia ficar com um pé atrás. Abri mão de me vestir para outras pessoas também e assumi meus movimentos desajeitados e estranhos como eles realmente são. Abri mão do meu entendimento. Abri mão dos meus amigos, abri mão de mim. Só não abri mão do meu capuz, em nenhum daqueles dias.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sociofobicamente da minha parte.

Eu reprimi qualquer atitude que pudesse te dar a impressão de que sou psicologicamente desequilibrado, ou que pudesse te fazer achar que sou digno de uma conversa melancólica. Você espera que eu estenda a mão para você mas todo mundo espera alguma coisa que sabe bem lá no fundo que é praticamente impossível. Você não me conhece, e eu sempre reservo para mim uma parte de minha sabedoria. Não compartilhar tudo o que sei desde mais novo é a minha melhor defesa. Então você esta conversando comigo embora tenham mais pessoas na conversa. Eu sei que você está olhando para mim mesmo sem olhar diretamente para você. Você tem potencial para uma amizade mas eu não sei se quero dar valor a esse potencial em você. Você diz que pareço anti-social e eu sorrio. Acho que já ouvi isso antes e acho que você não entende nada do que está acontecendo aqui. Você diz que sou divertido e que sou sarcástico, e até mesmo quando estou falando faço você rir por um bom tempo. Você diz que tenho um bom Coração.
Eu transito entre outros ambientes e o tratamento muda mesmo reagindo da mesma forma. Disse que não como desde a hora do almoço e você me olha com estes olhos que riem, mas desta vez eu apenas observo e “Não, eu não acredito que pensou que eu era isso todos os dias”. Você diz que eu falo coisas sérias nas minhas brincadeiras, você diz que eu pareço estranho e que mexo as mãos de uma forma irregular.
Você está aqui na minha frente e tudo o que consegue fazer é beber outro gole e fumar outro Cigarro, eu olho e questiono a sua atitude. E você diz que faz para ter felicidade. Eu pergunto o que é felicidade para você e você me encara com um a olhar sério e diz que é por isso que estou sozinho. Você diz que eu sou chato, e teimoso. Me aconselha a tomar remédios. Nos discutimos e eu sinto vontade de te bater. Então aí vai mais uma amizade jogada fora.

Eu espero que entenda.

E então ela está olhando para baixo enquanto conversa comigo. Nossos passos estão mais lentos e nós amadurecemos muito desde a nossa ultima conversa deste tipo. Os pontos de vista estão sutilmente mas drasticamente inclinados ás nossas novas crenças e ideais.
Ela diz que pretende comprar uma casa em cerca de 2 ou 3 anos porque está sendo sufocada e pressionada a realizar as vontades de seus pais, eles estão fazendo planos por ela sem que ela lhes dê a sua opinião. Ela diz que seus relacionamentos são traumáticos e confusos, e que ás vezes se sente traída pelas pessoas que ama. Diz que odeia dias chuvosos, Sushi e qualquer coisa que se coma gelado. Diz que já pensou em dar um fim “antecipado” a sua vida, diz que não sabe o que quer fazer da sua vida. E ela se cala. Eu respiro fundo e penso em abraça-la, penso em dizer algo esperançoso, penso em contar uma piada mas logo penso que não. Eu espero alguns minutos enquanto ela chora ao meu lado e “Se eu ao menos soubesse o que fazer com suas palavras” é a única coisa que saí da minha boca.