quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Outro caso.

Você se levanta da cama junto com o sol. Muitas vezes antes dele. Muitas vezes queria continuar nela. Agora você faz parte desse sistema. A vida realmente parece injusta. Você dá sinal para o Ônibus que mais uma vez está cheio. Você ouve uma conversa, então coloca seus Fones de Ouvido. Pensa que todo o esforço de agora terá um significado no futuro. O tempo corre ao mesmo tempo que parece rastejar lentamente.

E então você começa a esquecer o que estava pensando, e a esquecer o que tinha para dizer. Começa a omitir a verdade por negligência própria. Começa o dormir apenas 6 horas por dia. Começa a pensar mais, e a falar menos. Começa a fingir que está tudo bem. Começa a questionar os outros, a si mesmo e a Deus. Questiona tudo o que está a sua volta. Percebe que nada a sua volta faz algum sentido. Você então fica nervoso e critica tudo o que se aproxima. Você pensa em sair e conversar. Você procura pessoas como você. Você não as encontra, e mesmo acompanhado se sente sozinho.

Faz tentativas frustradas de ser alguém melhor. Faz tentativas frustradas de desenvolver paciência em si mesmo. Faz tentativas frustradas de sorrisos. “Qualquer coisa para quebrar a rotina”, é sua meta. Você não sabe mais quem é você. Você não sabe por quem está comprando roupas novas. Você ás vezes não sabe por quem está perdendo peso. As pessoas te pressionam para tornar você como elas. E de fato, você tenta ser. Embora te irrite profundamente vê-las mentindo o tempo todo. Você não quer ser estúpido. Você não quer assistir TV. Você não quer aceitar o ponto de vista delas. Você procura conhecimento. E então desiste de ser.

Você continua com pressa. Continua correndo. Continua “vivendo”. Você faz isso sozinho. Dentro do seu quarto. Antes de ter que tomar anti-depressivos. Antes de ter que beber para esquecer. Ouve-se de longe um barulho abafado. A porta está trancada. Ela sempre está. Atrás dela outro corpo. Outro caso para o noticiário. Outra morte. Suicídio.

Inspirado por Pc Siqueira.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Para ser exato.

Eu encontrei uma forma de fugir de toda a hiprocresia enquanto eu refletia sobre isso. É uma mentira atrás da outra e a coisa vai ficando cada vez mais complicada, ás vezes eu me esqueço do essencial porque volto toda minha atenção para os seus problemas e cobranças. Eu nunca estou sozinho e quando tenho esse tempo eu gasto ele todo com pensamentos sobre o futuro, me disseram que é errado fazer isso mas como vivendo em um mundo de pressão e claustrofobia? Acho que eu estou me libertando mas se eu estiver um dia que seja fazendo algo que eu sei que vá me orgulhar talvez algo inédito para mim mesmo eu não terei nenhuma referência e isso significa que estarei trilhando meu caminho sem luzes, sem saber aonde chegarei.
Eu acordo e respiro toda essa preocupação que emana dos outros e chega até mim, e não são necessárias muitas horas para que eu já tenha estremecido por causa de um pensamento, isso equivale a uma morte (nos dias de hoje) entre 22 a 29 anos por problemas cardíacos, não é mesmo? Eu mantenho o equilíbrio nos meus pés e programo isso no meu cérebro, em uma guerra de vontades, obrigações e eu mesmo.

Eles nos ensinam a fingir simpatia, a mentir, a nos acostumar e depois nos condenam por termos aprendido a lição perfeitamente. É preciso um pouco mais de coordenação nos meus movimentos porque psicologicamente falando eu não sou comunicativo como eles acham que eu deveria ser. Nascer em uma felicidade mal esclarecida não me fará menos aborrecido, algumas coisas eu aprendi foram somadas a quem eu sou mas existem coisas que estão nos nossos sangues e isso nós nunca poderemos mudar. Eu fui concebido na liberdade mas eu não sou livre, eles estavam se revoltando mas eu não porque eu já estava. Eu nasci na geração que mais favoreceu os psiquiatras e psicólogos então não me peça sanidade.

domingo, 12 de setembro de 2010

Desapaixonado.

Meu objetivo não pode ser resumido a corações alheios e eu, diferente do que aparenta, tenho apenas um coração atrás deste peito batendo apressado de tempos em tempos. Ele espera que você volte mas eu não deixarei que você me magoe outra vez, sabe muito bem que eu não posso ficar com toda a culpa. Para sempre desapaixonado, sem interesse por nada desconhecido, eu estou sendo recíproco porém não convidativo. Eu nunca estive apaixonado. Eu não sei o que era mas tenho certeza isso não é amor de jeito algum.
Tenho que confessar que não estou certo sobre o que senti até esse momento, sou muito novo e serei muito novo para sempre quando se tratar deste tipo de sentimento. Eu nunca estive apaixonado, bem, pelo menos não por você.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Varejeira.

Ela dançava através da brisa do vento, hora pousando e hora voando ao meu redor outra vez. Eu pisquei meus olhos algumas vezes, e até cheguei a tentar afasta-la de mim mas ela insistia em se manter por perto o tempo todo.
Recostei minha cabeça no travesseiro e agora ela estava um pouco mais longe, estava no vidro da Janela desejando a vida lá fora, mesmo se fastando ela sempre voltava em minha direção, não como um pedido de liberdade mas sim como se estivesse apaixonada pela minha amargura. Ela me fazia companhia, quando eu não queria mais ninguém comigo. Eu sei que ela chegou até mim acidentalmente ou quem sabe por uma mera curiosidade de saber quem estava fechado naquele quarto a horas seguidas. Não, eu não me surpreendi quando ela resolveu se aproximar ainda mais. Sobrevoando meu rosto, sacudindo meus cílios com suas asas apressadas, ela apenas estava se despedindo de mim. Antes de parar de respirar.